Com meus gatos aprendi a amar sem encoleirar

“Gatos não ligam para o dono!”

“Gatos não gostam de gente!”

“Gatos são interesseiros!”

Não é isso que afirmam aqueles que falam sem conhecê-los?

Mas é mentira!

Meus gatos, por exemplo, quase sempre estão perto de mim:

Enquanto eu trabalho, dormem sobre meu colo ou ao lado do notebook. Enquanto tomo banho, ficam esparramados sobre o chão frio e úmido do banheiro. Nas vezes em que estou no celular andando pra lá e pra cá, ficam me seguindo feito mísseis teleguiados, rodeando minhas pernas e causando tropeços, esperando que eu estacione para também estacionarem.

E por aí vai… “Vão”, alias.

E não agem assim pelos rangos e carinhos gostosos que ofereço, eu sei. Eles gostam de ficar perto por possuírem a certeza de que gosto deles, simplesmente.

Às vezes, no entanto, querem o espaço deles. Não são tão submissos quanto a maioria dos cachorros, que enxergam os humanos como donos, e não como exemplares da mesma espécie – os gatos nos encaram como gatos grandes.

Não rolam quando queremos nem dão a patinha.

Algumas vezes, não dão a mínima quando os chamo, essa que é a real.

gatos podem ser bem independentess
“E daí que você quer algo, humano? Você me consultou antes?”

Mas por que deveriam, né? Para mostrar que me amam?

E desde quando submissão absoluta é sinônimo de amor?

Se pensar bem, verá que temos a bizarra mania de associar a submissão ao amor; cremos que só nos amam de verdade aqueles que vêm correndo quando assobiamos, que atendem imediatamente a todas as nossas solicitações, que abrem mão dos próprios desejos em prol dos nossos…

Só que não!

E não estou falando apenas de relações entre gente e animais, não.

Assim como alguns enxergam o comportamento independente dos gatos como exemplo de pouco amor, há quem faça o mesmo em relações humanas: reclamam de parceiros que, com razão, exigem momentos de independência.

Relacionamento não tem nada a ver com posse, porém; ou seja: aceitar – e respeitar – a liberdade do outro demonstra mais amor do que qualquer buquê ou declaração pública.

Por mais que uma pessoa o ame, ela precisa de espaço, de momentos sem você – sozinha ou com outras pessoas. E tentar privá-la disso é um puta egoísmo, uma forma de anti-amor.

Sabe o que eu acho?

Acho que precisamos parar com essa mania humana de querer que todos satisfaçam nossos desejos a qualquer custo, mesmo que precisem abrir mão dos próprios.

E uma boa forma de fazer isso é começar a conviver com os gatos, sério.

Pois só terá uma boa relação com eles se aprender a ser parceiro; se em vez de ficar tentando dominá-los, sacar que a melhor forma de tê-los por perto é mostrando o quanto é capaz de amá-los e, principalmente, de respeitá-los.

Obs: acredito tanto no amor sem coleiras demonstrado/ensinado pelos gatos que fiz até uma camiseta para homenageá-lo.

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Ricardo Coiro

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