Sábado foi um grande dia. O motivo? Reencontrei um amigo do peito. Um cara que considero pacas, com quem vivi inúmeros momentos memoráveis.
Passamos bons anos grudados, juntos para cima e para baixo, até que ele se mudou para Curitiba e, aos poucos – ano a ano -, fomos nos afastando. E sabe o pior? Não lutamos contra as variáveis que aumentaram a distância entre nós. Em vez de fazer escarcéus e esforços necessários para manter a proximidade, agimos com passividade diante das reviravoltas da vida. Aceitamos o hiato, simplesmente. Permitimos o nascimento de um abismo que, na época em que nos víamos diariamente, parecia-me algo totalmente improvável.
Agora, olhando para trás, fica fácil dizer o que poderíamos ter feito. Mas o fato imutável é: não fizemos o bastante. Apesar da consideração e carinho que sempre tivemos um pelo outro, deixamos que nossas histórias corressem de maneira praticamente paralela, com raríssimos e rasos pontos de intersecção; como ligações de “feliz aniversário” e papos de elevador por meio de redes sociais.
Doido, né? Doido e doído. E sabe o mais bizarro? Eu nunca deixei de citá-lo quando me perguntavam sobre meus verdadeiros amigos. Mesmo na época em que eu não o via há mais de cinco anos. Minha namorada, certa vez, até estranhou quando eu o coloquei no seletíssimo time dos meus melhores amigos. Ela me perguntou: “Ele está entre seus melhores amigos e você nunca sai com ele?”. Deve, inclusive, ter desconfiado da minha sanidade, achado que eu possuía um amigo imaginário ou alguma maluquice do tipo. Só que não! A prova: ontem, após algumas cervejas e muito papo com ele, eu descobri que nossa amizade é real. Ou melhor: notei que ela continua real.
Não sei se já passou por algo assim, mas revê-lo me deu a sensação de que as coisas, apesar dos pesares, não mudaram. Foi como se estivéssemos continuando do exato ponto que em que paramos de nos procurar. Apesar dos jeitos que não demos e das desculpas esfarrapadas que arrumamos, acredite: o sentimento de amizade e respeito que nos uniu um pouco depois do início deste século não morreu. Manteve-se pulsando, firme e forte, independente da nossa falta de atitude e excesso de preguiça. E assim, acredito, são as amizades verdadeiras. Saca? Elas simplesmente sobrevivem às nossas burradas.
Desde a última vez que nos vimos, muita coisa mudou em nós e em nossas vidas: meu cabelo afinou pacas e a barba falhada dele, dentro do possível, cresceu. Ele comprou um barco de pesca e eu publiquei dois livros. Ganhamos barriga e perdemos paixões. Nossa amizade, porém, continuou intacta. E isso que me importa agora; o bastante para eu me sinta disposto a lutar contra qualquer coisa que ameaçar nos separar. Contra meus congelamentos, adiamentos e postergações, principalmente.
A música A Lista, do Oswaldo Montenegro, nunca fez tanto sentido em minha vida. Ouça-a e reflita. Melhor ainda: “Faça uma lista de grandes amigos… Quem você mais via dez anos atrás? Quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais?”. E, se tiver a mínima chance, além da lista, faça força para recuperar aquilo que, apesar da importância, você deixou de lado.
Perca a cabeça, o sono, a chave do carro, a hora, o avião… Mas, pelo seu bem, não perca seus amigos verdadeiros. E se acha que os perdeu, faça como eu: reencontre-os o mais rápido que puder. Já!