Quem realmente quer, arruma um jeito!

Meus dias têm começado com uma corrida (caminho mais do que corro, na verdade) no parque. Faz bem à saúde e, acredite se quiser, ajuda-me a pensar em temas para novos textos. Hoje, por exemplo, eu cruzei várias vezes com um moço que trotava de calça jeans e All Star. Não é o traje mais apropriado para se exercitar, não preciso ser formado em educação física para saber. Mas o fato é: ele estava lá, firme e suando cataratas, enquanto você, mais uma vez, escondia-se sob uma desculpa qualquer. Uma das tantas que vive a dar para nunca sair do lugar. Pensa que eu não sei?

“Hoje está muito sol”, “Vai cair uma tempestade”, “Não tenho tempo”, “Falta-me companhia”, “Tô sem grana para bancar uma academia”, “No mês que vem será mais fácil de acordo com o horóscopo da semana”… Não é isso que tem falado por aí? Eu sei que é. Ô se sei! Afinal, eu também já disse isso antes. Disse e repeti cada uma dessas desculpas esfarrapadas no mínimo dez vezes. Ou trinta, sei lá. Até perceber que a culpa pelo meu sedentarismo era só minha; não do clima, da rotina abarrotada, dos amigos que só aceitam convites a lugares onde há cerveja, da conta corrente sempre vazia e de tantas outras coisas que fantasiei de muralha para me sentir menos culpado pela minha bunda sempre colada no sofá.

Muitas vezes a culpa pela nossa estagnação mora em nós. Somente em nós. E fazemos de tudo para tentar jogá-la no colo dos outros. Sabe por quê? Porque morremos de medo de encarar nossas fragilidades, começamos a tremer só de pensar em descobrir que, na maioria das vezes, somos nossos próprios vilões – e não aqueles a quem vivemos a apontar os dedos. Dói, né? Eu sei. Mas perceber sua considerável parcela de culpa lhe dará, também, a capacidade de buscar formas reais de alcançar os méritos que, até o momento, estão apenas no campo da imaginação.

Você já deve ter ouvida a frase “Quem quer, arruma um jeito. Quem não quer, arruma uma desculpa”, não ouviu? Pois se trata da mais incontestável verdade. E não pense que ela só faz sentido quando o assunto é exercício físico, não. Nada disso! Ela serve perfeitamente a qualquer segmento da sua vida, do amoroso ao profissional.

Se continuar a inventar desculpas mirabolantes para justificar o pouco tempo que passa com o livro aberto, por exemplo, nunca vai passar no concurso que tanto deseja (aliás, deseja mesmo?). Nunca! Captou? E se não acredita em mim, sugiro que converse com aqueles que conseguiram; pois rapidamente perceberá: eles estudaram muito, sem parar, mesmo quando o Sol parecia determinado a convencê-los a deixarem o estudo para mais tarde; mesmo quando a energia elétrica falhava e só lhes restava algumas velas e um pingo de energia mental; mesmo quando todos os seus amigos estavam de férias e embriagados numa praia qualquer. Mesmo!

A mesma lógica vale para relacionamentos: se você está a fim de fazer dar certo com alguém, tenho certeza de que dará um jeito de fazer acontecer; independente do estado em que ela (ou ele) mora e de diferenças que, para gente pouco disposta, bastariam para um definitivo “não vai rolar”.

O lance é: se quer mesmo correr, nem mesmo o esquecimento do tênis e da bermuda bastará para fazê-lo permanecer imóvel. Se está verdadeiramente a fim da moça e de estar perto dela, em vez de bombardeá-la com mensagens que sempre terminam com “tô com saudade, viu?”, vai arrumar um tempo – nem que apenas meia horinha – para encontrá-la. Nem que precise dormir uma hora a menos. Nem que tenha de almoçar no busão. Nem que… Você entendeu, né? Se quer muito alguma coisa, cabe a você parar de inventar “poréns” e começar a construir pontes capazes de levá-lo até ela. Ponto.

Por fim, quero dividir com você uma técnica que me motiva quando me vejo propenso a cair nas garras pegajosas de uma desculpa. Posso? Quando noto que estou prestes a me tornar um bunda mole que coloca a culpa em coisas como garoas, alinhamento dos planetas e dor na panturrilha para não sair de zonas de conforto, imediatamente, imagino-me na pele do Bear Grylls (aquele cara do Discovery Channel que sobrevive a condições extremas bebendo xixi e comendo cobras), e me faço questões como: “Ele deixaria de se encontrar com os amigos por causa de uma garoa ou carro na oficina?”.

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Mais do que isso: depois de longas conversas sobre o assunto com meu amigo Leo, concluí que o “Bear Grylls Way of Life” (assim o chamamos) pode ser adaptado à vida de qualquer um que deseja fazer as coisas acontecerem em todo tipo de cenário. Como? Simples: se o Bear precisa de um abrigo, em vez de começar a chorar por não ter tijolos e cimento à mão, ele procura formas de fazer um com aquilo que está à disposição. Nem sempre sai perfeito, é verdade. Mas sai. Acontece. E isso que importa no final das contas, quando a noite e a chuva caem! Sacou o espirito da coisa?

Não estou sugerindo que comece a caçar quando estiver sem barrinhas de cereais na bolsa. Longe disso. Mas sempre que pensar em reclamar e em inventar desculpas para não realizar algo que considera importante, pense em sua capacidade de improvisar, de chegar lá, de viabilizar castelos com as ferramentas que tem… E notará que poucas serão as coisas realmente capazes de barrá-lo quando começar a procurar por novas rotas e parar, de uma vez por todas, de chorar por mapas perdidos e de invejar os que chegaram lá.

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Ricardo Coiro

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