Muita gente sonha com casa própria, casamento na igreja seguido de festança, filhos e carrão do ano. Minhas taras são outras. Por exemplo? Carimbos no passaporte, passagens aéreas em promoção, cartão que dá milhas em dobro, dólar em queda livre, botas confortáveis e impermeáveis, poltronas de avião com boa capacidade de reclinação, malas espaçosas, leves e seguras…
Se o principal objetivo da sua vida é se casar de véu e grinalda, passar a lua de mel se empanturrando de cerveja e camarão num resort e depois ficar anos quase sem sair de casa por ter usado todas as suas economias para bancar uma festa que terminará com bebuns dançando I Will Survive e tiazinhas que nunca viu enfiando bem-casados na bolsa, tudo bem. A vida é sua, afinal. O dinheiro também. E quem sou eu para dizer que está errada, né? Eu, porém, prefiro viajar!
“Mas nem todo mundo precisa abrir mão de viajar para fazer uma festona de casamento, Ricardo!”, alguém certamente afirmará, tentando me convencer de que uma coisa não anula a outra. Não anula mesmo, é verdade. Mas a comparação de custos e benefícios acaba sendo inevitável para mim: não consigo deixar de pensar na quantidade de pessoas, comidas e culturas enriquecedoras que posso conhecer investindo o mesmo – ou até menos! – que teria de investir numa festa da qual os convidados, muito provavelmente, sairão reclamando da qualidade do uísque, do repertório do DJ e de outras tantas coisas que, se pensar bem, deveriam agradecer com aplausos.
Então alguém falará: “Hoje em dia dá para casar barato, por uns vinte mil reais!”. E minha cabeça, imediatamente, começará a converter esses vinte mil reais em viagens e coisas relacionadas a elas. E a opção comer escorpiões fritos na Tailândia acompanhado por gente que amo me parecerá mil vezes mais interessante do que servir quitutes a um bando de gente que, apesar de me dar “parabéns”, não estará nem aí para mim. E a alternativa enfrentar a secura marciana do Atacama sozinho certamente soará como algo bem mais divertido do que passar horas rodeado por gente que só estará comigo por uma razão: secar garrafas e mais garrafas de tudo que for etílico e capaz de fazer a vida parecer um pouco mais tragável. E a possibilidade de bater um papo com uma pessoa com visões de mundo totalmente opostas às minhas me parecerá algo muito mais agregador do que as ideias políticas e rasas que trocarei com gente que me dará tapas nas costas e me dirá “Está tudo lindo, viu?”, mesmo achando tudo cafona;”O ó!”.
Imagino-me encoleirado por uma gravata apertada em meio a falsos conhecidos falsos – que evaporariam se eu precisasse de vinte reais – e, imediatamente, tenho vontade de estar dentro de roupas confortáveis acompanhado por verdadeiros desconhecidos nos quais poderei encontrar novos ângulos de mundo e a capacidade de perceber que grande parte daquilo que considero verdade absoluta não passa de influência cultural, convicções que herdei da minha família e ambiente. Compreende?
Casar da maneira tradicional, em minha humilde opinião, é uma celebração exagerada e extremamente burocrática que tem como principal objetivo expor um laço pessoal a um bando de pessoas que pouco – ou nada! – tem a ver com a vida do casal. É algo que me parece moldado quase que exclusivamente à sociedade que vive a meter a colher onde não é chamada. Sendo assim, pergunto-me: por que não um churrasco com aqueles que verdadeiramente importam (os que contamos nos dedos, saca?) e depois me jogar em uma experiência que fará real diferença à minha vida e também à vida de quem está a fim de compartilhar a existência comigo? Uma viagem, por exemplo. Um mergulho no novo do qual sairemos diferentes – e não apenas bêbados, ansiosos por fotografias, com dores nas pernas e cheios de parcelas para pagar.