Todos estão sentados? Então, por gentileza, sentem-se. Sério. Pois o que eu tenho a dizer causará choques e irá contra tudo o que aprenderam com os contos de fada adocicados que leram na infância. Estão prontos? Aí vai: os sentimentos que alimentam o amor, muitas vezes, são os maiores responsáveis pela morte do desejo sexual.
Acham que eu fiquei louco? Peço que fiquem calmos e que me deixem explicar melhor: os elementos que nutrem o amor – como a proteção, a responsabilidade, a mutualidade, a reciprocidade, o respeito e o zelo -, em muitos casos, são os grandes culpados pela asfixia total do desejo sexual. E por que isso acontece? Porque o desejo, muitas vezes, emerge de sentimentos que são totalmente antagônicos aos queridinhos do amor. Quais são eles? Por mais que você não queira confessar, não saiba ou que tenha vergonha de assumir, o seu desejo sexual é alimentado, basicamente, pelo domínio, pelo desequilíbrio, pela agressividade, pelo poder, pelo ciúme, pela possessividade, pelo prejuízo moral e pela indecência. Em resumo: na cama, a maioria de nós fica com tesão por coisas que, fora dela, somos contra – ou dizemos ser.
Perceberam o paradoxo? É por isso que, em muitas relações, a diminuição do desejo sexual é proporcional ao crescimento do amor e de sentimentos que, com o passar do tempo, nos fazem encarar o parceiro como objeto a ser cuidado – e não como objeto capaz de nos estimular sexualmente. Os sentimentos ternos e puritanos do amor crescem até que, de repente, de tanto espaço que ocupam em nossa mente, parecem incompatíveis com as necessárias impurezas – como a indecência e o prejuízo moral – que incitam o desejo humano. Com o tempo, é normal que a relação se torne um vínculo paternal/maternal que não combina, ao menos na cabeça dos envolvidos, com os elementos que afloram o tesão. Não é uma coisa racional, e por isso, por mais que estejamos munidos de vibradores e de aulas de pompoarismo, não é fácil manter, na mesma casa e convivendo em harmonia, os demônios que causam tesão e os anjinhos que geram suspiros delicados de amor.
De um lado o amor pede segurança, estabilidade, confiança, previsibilidade, perenidade e dependência; de outro, o desejo sexual clama por perigo, desequilíbrio, risco, novidade, indecência, mistério, adrenalina, imprevisibilidade, aventura, surpresas e por elementos desconhecidos. Ou seja: fodeu! Sendo mais claro: o romantismo, na cama, é um ótimo caminho para dar uma rasteira no tesão. E se quiser continuar a ter vontade de transar com quem você ama, ao menos entre quatro paredes, precisa aprender a mandar o “amorzinho” para a puta que o pariu e a permitir que o seu lado mais sujo venha à tona. Eu sei que ela enche o seu coraçãozinho de ternura e que, nas calçadas da vida, você a mantém longe dos carros, porém, na hora do sexo, esqueça os olhares meigos e aja de maneira capaz de fazê-la enxerga-lo como algo além do cara que zela pela saúde dela em dias chuvosos e frios. Por mais que, no dia a dia, como forma de respeito, você a mantenha em posições que demonstrem igualdade entre vocês, na hora da foda, irmão, dê uma chance à desigualdade e ao desrespeito que, só no sexo, têm licença poética para acontecer. Pense nas posições sexuais e verá que, na maioria delas – ou em todas -, sempre existe alguém em posição de desigualdade e de submissão. Perceberam? As demonstrações de igualdade necessárias em diversas esferas da vida humana, mas na hora do “lepo-lepo”, por favor, saiba se despir delas. Permita-se dominar e ser dominada.
Irmão, eu sei que você a ama e que ela é mãe dos seus filhos, contudo, na cama, esqueça as demonstrações de cuidado, a voz fofinha e a sua veia paternal. Amigo, pelo bem da sua vida sexual, não use a hora do sexo para demonstrar amor, respeito e ternura. Nem as princesas da Disney ficam molhadas com pétalas de rosa caindo sobre a cama! Mesmo que você seja o último romântico, deixe para fazer declarações shakespearianas quando estiver com o pau fora dela. É sério! Misturar tesão com fofura é mais perigoso do que bater manga com leite. Faz pirocas murcharem e pepecas ficarem áridas.
Outro dia me perguntaram o motivo pelo qual eu não escrevo contos eróticos românticos, e, finalmente, sinto-me capaz de responder: eu não sinto vontade de fazer amor na cama, prefiro fazê-lo enquanto converso em uma mesa de restaurante e em bilhetes que eu costumo colar na geladeira dela. Na cama e quando eu estou nu, prefiro fazer aquilo que os filhos temem pegar os pais fazendo. Entende?
Eu respeito a opinião de quem sente vontade de gozar quando ouve o parceiro dizer “eu te amo”. Eu, porém, acho mais excitante quando elas me dão socos na cara e não agem como se eu fosse um filhote de labrador que necessita de colostro. Sabe o que eu penso a respeito de fazer amor no sentido sexual da coisa? Acho um pé no saco. Mas essa é apenas a minha opinião, tá bom? Se você curte, irmão, sinta-se livre para colocar uma música da Whitney Houston – de preferência “I Will Always Love You” -, e para, quando estiver dentro dela, em vez de chama-la de “cachorra”, chamá-la de “coisa linda do meu coraçãozinho” e, entre uma enfiada e outra, perguntar se ela está com frio.
Obs: este texto foi baseado no sono que meu pau sente quando ouve “love songs” e nas palavras da Esther Perel, uma sábia terapeuta sexual.