Sou teimoso pacas. E me orgulho um bocado disso, se quer saber. Orgulho-me porque mesmo depois das tantas canalhices e monstruosidades que presenciei por aí, eu continuo a acreditar no amor. E se pensa em me convencer do contrário, desista! Arrume outra vítima para tentar murchar, ouviu? Pois eu não darei o braço a torcer, não adianta. Muito menos o coração – e se por acaso conseguir torcê-lo, garanto: pingará sentimento à beça, vontade de manchar o mundo com o que fervilha em mim e que, com certeza, é real. E transformador.
“Você é um sonhador, Ricardo!”, dizem-me tanto quanto “Quer CPF na nota, senhor?”. “Você não está preparado para este mundo cruel”, praguejam de olhos arregalados, cheios de veias saltadas. Mas eu não dou a mínima. O que faço? Continuo dando corda aos sentimentos que, a meu ver, têm potencial para impedir que continuemos a afundar neste lamaçal de ódio e outras coisas que cortam a alma. Dou corda mesmo! E só vou me contentar quando, com meu peito aberto, conseguir tocar multidões, cidades, estados, países, planetas, galáxias…
E mesmo que a guerra continue a acontecer e a deixar amputados agonizando pelo caminho, eu continuarei a levantar a bandeira da paz e a tentar fazer com que usem o dedo do gatilho para ações mais bonitas e agradáveis, como cafunés e orgasmos de acordar o quarteirão. Mais do que isso: jamais deixarei me convencerem de que um tiro/murro é mais eficiente do que uma palavra. Nunca! Afinal, um simples pedido de desculpa disparado por alguém capaz de deixar o orgulho de lado é capaz de desarmar bombas atômicas prestes a explodir, falo sério.
Se apostar todas as fichas no carinho e na educação hoje é considerado desperdício, rumar na contramão, contra a maré de gente oca eu insistirei em remar. Forte! Mesmo que me chamem de louco, estranho, piegas, romântico e outras coisas que, apesar de comumente ditas em tom de alerta ou xingamento, para mim soam como elogios grandiosos, verdadeiros indícios de que não há melhor direção a seguir. Um claro “continue”.
Como já disse, eu sou teimoso. E orgulho-me pela fé que ainda mantenho no ser humano, chama que vivem a tentar apagar à força, a punhaladas, a tudo que há de mais cruel. Orgulho-me por não ter me acostumado com os corpos sujos, cariados e à beira da podridão com os quais trombo nas calçadas da vida. Nunca me acostumarei a isso. Nunca! Sou teimoso demais para dar ouvido aos que dizem: “Se sofrer por cada criança descalça e com fome que encontrar, não vai suportar”. Sou teimoso e, assim, morrerei. Assim e, talvez, por causa disso, é verdade. Mas é isso que sou, não é? E sei que não estou sozinho, que muita gente insiste em crer num futuro melhor; mesmo quando balas e pessoas perdidas parecem sobrar.