Hoje vou escrever sobre as pequenas atitudes e mudanças que vivemos a subestimar porque estamos cada dia mais imediatistas, querendo tudo “pra anteontem”, a passos de foguete.
Quando resolvemos perder uns quilinhos, por exemplo, comumente entramos em regimes alimentares extremamente rígidos, quase militares. E após alguns dias de sofrimento e longe de tudo nos faz salivar, sem pão nem arroz nem doce nem nada – só alface e olhe lá! -, chutamos o balde. Ou melhor: como adolescentes “lariquentos” comemos tudo que passa em nossa frente, e na geladeira, e no armário, e na conveniência do posto de gasolina…
O mesmo acontece nas vezes em que decidimos ganhar massa muscular: depois de séculos pasmando sobre um sofá que tem a marca de nossa bunda gorda, levantando apenas o controle da TV e pacotes de bolacha, aparecemos na academia, e lá, em vez de começar pianinho – como recomendam os profissionais que entendem do assunto -, tentamos dar uma de Léo Stronda ou daqueles “crossfiteiros” que têm pipocado no Instagram, e nos quebramos, obviamente; ou desistimos rápido porque não aguentamos o tranco. Ou você acha que é fácil ir da vodca ao whey protein e da zapeação de canais ao burpee (exercício inventado pelo capeta num dia de mau humor)?
E a nossa pressa não para no campo estético, não: de repente notamos que não estamos mais lendo nada além de mensagens no celular e textos bostões de internet, então, numa tentativa desesperada de reativar nossos cérebros, decidimos retomar o hábito de ler, o que é ótimo; o problema é que, sem aquecimento, resolvemos encarar A Montanha Mágica – que tem mais de 800 páginas. E pior: por causa da culpa que sentimos devido aos anos que passamos longe dos livros, estipulamos um prazo curtíssimo para terminar o negócio. Logo nós, que até o ontem não encarávamos mais do que tweets.
E assim, querendo acabar em dias com atrasos que levamos anos para conquistar, não conseguimos nunca atingir a meta. Perdemos duzentos gramas em uma semana, mas, na seguinte, ganhamos um quilo e meio num ataque glutônico e furioso. Ganhamos um centímetro de bíceps num mês, mas, no outro, voltamos a definhar na companhia da Netflix porque mal conseguimos andar. Lemos meio livro de filosofia num sopro, até sentir o cérebro fritar, daí o deixamos no criado-mudo, para sempre, e voltamos a nos contentar com conteúdos já mastigados que não exigem tanto de nós. Estou errado?
Eu já fui alguém a fim de resultados imediatos, quase mágicos. Vez ou outra, aliás, ainda sou. Mas, de maneira geral, posso afirmar que estou aprendendo a começar no sapatinho, pelo começo mesmo. E assim, partindo do bê-á-bá das coisas e sem querer pular as etapas necessárias para alcançar a faixa preta, tenho conseguido mais vitórias, e melhor: tenho me mantido por mais tempo na trilha dos meus objetivos, o que me poupa de frustrações decorrentes de desistências.
À leitura – que é essencial ao meu trabalho -, por exemplo, eu separei uma hora por dia útil. Momento dedicado apenas a ela, vale dizer, em que coloco o celular no modo avião e desligo o computador. Pode parecer pouco, certo? Mas tenho lido uma média de 35 páginas por dia, o que me permite ler um livro de 350 páginas em 2 semanas. Sendo assim, em um ano consigo ler 24 livros; e em 4, acredite se quiser, dá para ler 96. Caramba, né? E estou falando apenas de 1 hora por dia 5 vezes na semana.
Em relação às atividades físicas fiz algo parecido: resolvi fazer 40 minutos de caminhada por dia, 4 vezes por semana. E toda semana eu incluo 1 minuto de corrida por dia, até que eu me sinta apto a correr o percurso todo. Já corro 20 minutos. E, se continuar assim, sei que é questão de tempo até que eu atinja a meta. Mas não tenho pressa, juro. Porque, entre outras coisas, aprendi também a apreciar a escalada. O orgasmo é importante, claro que é, mas e o vai e vai constante que nos leva até ele, vamos desmerecê-lo?
Ainda sobre os exercícios: quase nunca uso o elevador e, sempre que posso, tenho ido a pé aos lugares. Não parece muito, eu sei. Mas não é muito se pensarmos apenas no dia de hoje: daqui a 10 anos, para ter uma ideia, terei subido e descido milhões de degraus e caminhado o suficiente para ir de São Paulo a Manaus mais de 4 vezes – isso se andar apenas 5 quilômetros por semana.
“Devagar e sempre”, dizia um professor de guitarra que eu tive há anos, e agora eu entendo por que nunca fui muito além de Come As You Are e Redemption Song. Tanto entendo que, se um dia eu resolver fazer aulas de novo, começarei por Dó Ré Mi Fá, e não tentando imitar o Hendrix.
E você, vai continuar tentando resolver tudo num dia? Ou, finalmente, perceberá o poder dos pequenos e constantes passos?