No Facebook, pedi sugestões de temas para novos textos. Recebi várias ideias interessantes. Uma delas, porém, colocou-me imediatamente em “Modo Reflexão”: “Será que o amor de verdade só se vive uma vez?”. “Será?”, perguntei-me diversas vezes enquanto tomava meu café forte matinal e desenterrava sentimentos relacionados às relações que vivi.
Lembrei-me das melosas juras de amor eterno que fiz à minha primeira namorada, das incontáveis vezes em que a ela, sem desviar o olhar, afirmei: “Eu te amo para sempre!”. E logo concluí: fazia tais declarações porque realmente achava que estava diante do love da minha vida, do único e verdadeiro amor possível para mim, de algo insubstituível em todos os aspectos. Então, tentando entender o porquê da certeza atômica que carregava, mergulhei ainda mais fundo em minhas profundezas; e notei que a considerava a minha única chance de amor verdadeiro porque queria, a todo custo, transformar aquela relação em algo imbatível – ao menos em pensamento. E precisava de argumentos grandiosos o bastante para nem sequer cogitar a possibilidade de aquilo não dar certo e, consequentemente, ver-me obrigado a deixar pela metade a infinidade de planos que havíamos feito. Estava cômodo, afinal.
Aí veio a pior parte: tomei uma bica nas nádegas, chorei cataratas por achar que estava condenado a nunca mais viver um amor tão grandioso como aquele e caí num mar revolto de desilusão. Havia perdido aquela que considerava meu amor verdadeiro e nada me fazia sequer cogitar a possibilidade de encontrar novos amores tão reais, mesmo num mundo pra lá de populoso e cheio de possibilidades incríveis como o nosso. Passei um bom tempo sem esperanças, buscando refúgio em relações rasas e sem deixar que ninguém entrasse de fato em minha vida. Eu não queria perder tempo com pessoas que – de acordo com minhas convicções – nunca me fariam sentir aquilo que minha primeira namorada havia me feito sentir. Saca? E assim, forçosamente dentro de um colete à prova de sentimentos e me contentando apenas com superfícies, eu permaneci por um considerável período. Um longo inverno regado a uísque, no qual me tornei especialista em vestir calças no escuro e fugir silenciosamente bem cedinho, like a ninja.
Até que uma moça apareceu em minha vida e, felizmente, resolveu insistir em mim. E insistiu, viu? Insistiu, insistiu, insistiu… Até que eu perdi o medo de ficar para o almoço de domingo. Insistiu mesmo quando eu, claramente, fazia de tudo para não envolver mais do que pele e tesão em nosso caso. Insistiu de um jeito maravilhoso que me fez perceber: em uma vida é possível viver mais de um amor verdadeiro. Muitos, talvez. Basta se manter de peito aberto, sem medo das dores que a entrega pode causar. E não faz sentido algum comparar amores antigos com os novos. Ponto. Porque cada amor tem sua beleza, manja?
“Será que o amor de verdade só se vive uma vez?”, perguntou-me uma leitora, no começo desta manhã. E agora, olhando ao segundo amor verdadeiro que me hoje inunda de alegria e aos outros que poderiam ter nascido se não tivesse passado tanto tempo com o coração blindado, finalmente, sinto-me capaz de respondê-la: só ama uma vez aquele que não consegue superar o trauma que um amor naufragado às vezes deixa. Ou quem desiste de tentar novos amores por achá-los muito diferentes dos antigos. Porque aqueles que mantêm as esperanças no amor mesmo cientes das cicatrizes que ele pode deixar, sem dúvida alguma, são capazes de amar de verdade muitas e muitas vezes. Cada amor com uma graça. Todos amores, porém.