Hoje eu vou sair sozinha. Eu e a minha eterna vontade de me perder por aí, apenas. Eu e os tantos sonhos que carrego aonde vou, sabendo que são meus cilindros de oxigênio, o combustível do qual necessito para continuar seguindo em frente, sempre.
Hoje eu vou sair sozinha, e não ouse tentar me impedir. Não me siga nem diga “Não vá”. Não me ligue para saber onde estou e quando volto. Se realmente gosta de mim de mim, como vive a declarar, esqueça-me por algumas horas. Só por hoje finja que eu não existo, que nunca caiu na minha. Estarei muito bem acompanhada, afinal! Protegida até mesmo dos monstros que liberto quando me sinto enjaulada pelo excesso de zelo e olhares que você, sem perceber e por pavor de me perder para sempre, atira sobre mim.
Hoje eu vou sair sozinha. Eu e minha carne viva. E sugiro que faça o mesmo e, ao menos uma vez, tenha coragem de descobrir o que realmente é quando não há ninguém por perto para tentar impressionar. Saia também, descubra o que é quando se sente longe de tudo e, com muita sorte e bravura, dentro de você – fundo como treme só de pensar em mergulhar.
Hoje a festa é minha, só minha e dos meus botões prestes a abrir. E com sua eclipsante carência, não ouse impedir-me de brotar. Hoje eu vou comemorar o tanto que ninguém pode me tirar, aquilo que, por depender só de mim, ninguém – nem a mais obstinada das minhas inimigas – conseguirá prostrar. Hoje vou pedir cachaça só para um. Dose dupla, por favor. E vou muito além do “dois pra lá e dois para cá”: dançarei comigo, bem coladinha, até a perna bambear e o coração recolar. Até logo!
E se começar a chover, em vez de me ligar perguntando se coloquei a sombrinha na bolsa, sorria. Apenas. Mostre os dentes por saber que minhas violetas não morrerão de sede.