Peça-me para ficar. Diga-me que ainda existe alguma garrafa de qualquer-troço-etílico perdida em seu armário sempre vazio e que meu queijo preferido ainda não estragou. Convença-me, com todas as armas que tiver, a não abrir a porta. Puxe-me pelos cabelos, se for necessário. Crave as unhas em mim, mas, por favor, não permita que eu vá.
Conte-me, ao pé do ouvido, qualquer história longa, do tipo que só tem graça quando narrada por seu timbre suave. Faça-me rir e, se apenas com palavras não conseguir, abuse da sua melhor careta (aquela que você inicia secando as gengivas com os dedos, sabe?). Peça-me para não sair. Convide-me para uma degustação de pipocas, um rodízio de brigadeiros, uma harmonização de refrigerantes… E, num piscar de olhos, antes que eu tenha tempo para descolar minha bunda do seu sofá, dê o play em algum filme bem demorado, daqueles que não perco nem em dia de final de campeonato.
Peça-me uma massagem em cada canto e um beijo em todo ponto. Diga-me para ficar. Convença-me a desmarcar o trabalho, o dentista, os próximos capítulos do livro. E, se possível, desfaça a questionável significância do dia de amanhã. Aponte para o céu azul e, sem medo da mentir, diga que um tornado logo virá, e que, por isso, é melhor nos escondermos sob o breu do seu edredom. Peça-me alto, sem desviar suas retinas das minhas, e quando eu ameaçar baixar o olhar, segure-me firme pelo queixo, ou pela nuca. Ou pela alma!
Não implore. Não fique de joelhos. Não derrube lágrimas. Não ameace cortar os pulsos. Apenas, com jeitinho, peça-me para ficar.
Esconda minhas roupas e não me deixe sair pelado, por favor. Engula a chave da saída e o choro, se puder. Esquente o termômetro no abajur e, em tom manhoso de criança que não quer ir à escola, peça-me para cuidar de você. Não me deixe olhar para o relógio e, muito menos, lembrar-me do enorme erro que cometeu. Distraia-me com sua menor calcinha ou com seu mais envolvente abraço. Engula-me com seus lábios macios e, se nada disso adiantar, pegue-me desprevenido e me algeme, abruptamente. Peça-me para ficar, pois, apesar da enorme decepção que me deu de bandeja e do orgulho que, agora, insiste em dirigir meus atos: eu ainda sou demasiadamente louco por você.