Sei que estou amadurecendo. E não afirmo isso apenas por causa dos meus cabelos, que estão afinando e caindo à beça. Nem somente devido ao “empreguiçamento” do meu metabolismo, que já não encara mais feijoadas noturnas com bravura. Sei que estou amadurecendo porque meus ídolos não são mais os mesmos de antes…
Se na década de noventa eu admirava a postura rebelde, autodestrutiva e “pavônica” de algumas estrelas do rock, hoje, sinceramente, sou mil vezes mais a integridade, sobriedade e o comportamento pouco chamativo do Ricardo Darín – ator argentino que, além de atuar em filmes fantásticos, demonstra ter os pés no chão e a cabeça cheia dos valores que eu busco e desejo propagar. Veja esta entrevista e entenda.
Antes eu achava o máximo quando um roqueiro doidão atirava um sofá pela janela de um hotel. Pensava: “Nossa, que cara foda, que atitude, que…”. Agora, acho uma baita de uma idiotice. Afinal, qual o sentido de destruir, sem autorização, algo que não é nosso? Além disso, por que colocar em risco a integridade física de outras pessoas? Não faz sentido algum. É babaquice, no máximo.
Outra coisa: no momento, em minha vida não há mais espaço para admiração incondicional. Explico: antes, quando eu admirava uma pessoa, pouca coisa me fazia deixar de admirá-la. Era idolatria cega, e eu, por imaturidade, permitia que talentos ofuscassem escrotices e escorregões. Hoje não é mais assim, felizmente. Como exemplo, cito o Johnny Depp, que há pouco tempo me decepcionou, profundamente, ao bater em sua mulher (agora ex-mulher), a Amber Heard. Porra, Johnny, não esperava isso de você.
Hoje em dia a minha admiração não é mais imune a canalhices e atitudes que considero ruins. Porém, em alguns casos, ela pode ser restaurada – e até ampliada – quando há coragem para assumir um erro e real vontade de repará-lo, como rolou com o Criolo, artista que passei a respeitar ainda mais depois do dia em que ele mudou uma letra com conteúdo transfóbico. Ele errou, porém, em vez de agir como o Biel – que continuou a insistir na idiotice após assediar uma jornalista -, à revista Trip escreveu: “Era ignorância, né? Por falta de conhecimento da minha parte, usei em algumas músicas esses jargões populares, alguns apelidos e palavras que não fazem sentido algum e que só magoam as pessoas. Eu mesmo me magoei com isso depois que refleti. Na época nem me tocava, mesmo sendo preocupado com várias questões sociais. Agradeço por ter tido a oportunidade de rever e corrigir isso com a regravação, nos shows eu já cantava a nova versão há três anos. (...) Faz uns três anos e meio que eu comecei a perceber esses pontos e a me questionar o que eu estava reforçando com a palavra traveco, por exemplo. Tá marginalizando, colocando um monte de coisa negativa aí. Para! O que eu tô reforçando com isso? Tem várias coisas no decorrer do disco que eu já mudei, no No na Orelha, também. São coisas que demonizam a imagem da mulher e eu jamais quis fazer isso”.
Outro sinal de que estou amadurecendo? Carrego um bocado de arrependimento nas costas. E não adianta me dizer: “Arrependa-se somente daquilo que não fez”. Pois isso é uma grande besteira, frase de biscoito da sorte. Arrependo-me de coisas que já realizei, sim. Como não? Arrependo-me por textos que eu escrevi, pessoas que magoei e canalhices que fiz. Sinceramente? Queria não ter precisado de tantos erros e arrependimentos para amadurecer. Queria ter aprendido tudo na escola, entre o abecedário e os estados físicos da matéria.
Além de ouvir estalos nos joelhos e sentir que meu medo de avião está crescendo, sei que o tempo está me tornando uma pessoa melhor e, felizmente, mais responsável. Tanto sei que, em minha canela, tatuei uma frase de uma música dos Rolling Stones: “Time is on my side”. Quem disse que “tatuei” e “responsável” não podem coexistir no mesmo parágrafo, né?
Outra coisa que o girar dos ponteiros mudou em mim? Já gostei de roupas caras e de baladas nas quais as pessoas se vestem e agem de maneira muito parecida. Hoje, honestamente, não vejo nada mais divertido do que café, gente querida e bom papo. Se tiver bolo de cenoura então…
Nada contra aqueles que curtem baladas lotadas e camisas com jacarés estampados no peito, mas sinto saudade da Netflix quando, por acaso ou ordem do GPS, passo em frente à fila para entrar em alguma casa noturna. E me pergunto: será que esse povo já experimentou se reunir na casa de alguém e pedir pizza com borda recheada? Mas aí eu me lembro de que estou ficando ranzinza e preguiçoso também, não apenas maduro e careca. Mas não conto a ninguém.