Hoje corri no parque, acredite se quiser. E lá, enquanto matava a sede numa torneira que despejava água com gosto de terra, a conversa de dois moleques (não tinham mais do que 19 anos) roubou a minha atenção:
“Só suplemento não adianta, irmão. Se quiser ficar grande de verdade, rasgadão, você precisa de uns negocinhos a mais!”
“Eu até penso em tomar, mas tenho medo, sei lá…”
“Todo mundo toma, cara! Não dá nada.”
E o papo rolou por mais uns minutos, até que o garoto ressabiado demonstrou ter concordado em optar pelo caminho que, apesar de proporcionar reais mudanças estéticas, oferece inúmeros riscos à saúde: o anabolizante.
Eu não sei se ele tomará bomba ou se ficará apenas no frango com batata-doce. Não sei mesmo. Mas de uma coisa eu sei: muita gente anda colocando a saúde em risco, sem pensar duas vezes, somente para conquistar coxas mais grossas, bíceps maiores, abdomens mais definidos e outras coisas que têm valor infinitamente mais baixo do que a nossa vida.
E por que as pessoas estão arriscando o bem mais precioso que têm apenas para trocarem de embalagem? Tenho um palpite: elas se sentem inseguras e enxergam na adequação ao padrão estético ditado pela mídia – muitas vezes difícil de ser atingido sem auxílio de métodos perigosos – uma possibilidade de se sentirem, finalmente, parte desta sociedade que, a meu ver, não sabe o que é sucesso. Se soubesse não daria tanta moral a pessoas dispostas a colocar partes essenciais – como o fígado e rins – em risco por centímetros a mais em bíceps e peitorais, afinal.
Sucesso, em minha opinião, é não cair na pilha das revistas e “celebridades” que tentam nos influenciar a achar que a perfeição pode ser alcançada com reduções em percentuais de gordura e aumentos na quantidade de massa magra. Para mim o sucesso é ser mais forte do que as marés rasas que tentam nos reduzir à carne com potencial de ser lapidada; é aceitar as próprias limitações genéticas em vez de passar a vida – ou morrer! – tentando ultrapassá-las; é entender que buscar a ilusória e inatingível perfeição vendida pela mídia é o mesmo que enxugar gelo, a receita ideal para cair num mar de frustração; é se aceitar – e amar – mesmo depois de notar que é muito diferente dos que ganharam holofotes porque possuem corpos que se assemelham aos esculpidos pelo Michelangelo.
Não quero atear fogo em academias nem propor o fim das atividades que ajudam a moldar corpos, que fique bem claro! O que me preocupa é a imposição de padrões estéticos inatingíveis que vive a causar mortes e frustrações. Isso sim! Só desejo que as pessoas – principalmente aquelas que estão se envenenando por ilusões – consigam diferenciar aquilo que realmente necessitam das coisas que foram induzidas, das mais diversas formas, a acreditar que precisam, compreende?
Se quer ter um tanquinho, tudo bem. Boa sorte. Contudo, preciso que saiba: não é imprescindível ter um para viver bem. Não mesmo. Ter saúde, por outro lado, é.