Enlouquecer de vez em quando faz bem

“Alguns nunca enlouquecem. Que merda de vida eles devem levar”, afirmou Charles Bukowski. E me sinto obrigado a concordar. Enlouquecer de vez em quando faz bem.

Se não seguíssemos regra alguma e nos deixássemos levar somente pelo espirito de caos que há em nós, faríamos cagada atrás de cagada. Transformaríamos a sociedade, que já não parece bater nada bem, numa baderna muito maior – isso é possível, acredite!

Por outro lado, quando nos forçamos a permanecer impecavelmente nos trilhos por longos períodos, sem direito a “enlouquecidinhas” pontuais e momentos em que regras não são bem-vindas, aumentamos nossa pressão interna e, consequentemente, nosso risco de explodir.

Sem contar o pé no saco que a vida se torna, né? Ou você acha graça numa existência na qual a próxima página sempre é pra lá de previsível?

Não estou falando para tomar um porre de absinto com heroína e sair por aí dirigindo feito um maluco desgovernado, não confunda as coisas, por favor!

 

Keith Richards mostrando o significado de enlouquecer

Você não é imortal como o Keith Richards, lembre-se disso!

Não quero incitar ninguém a atirar sofás de janelas de hotéis, cometer delitos ou agir de maneira capaz de ferir o próximo, faço questão de enfatizar para que malandro algum use este texto como argumento a atitudes capazes de ferir o limite de outra pessoa. Beleza?

Quando falo de quebrar regras, refiro-me a momentos nos quais não há necessidade de dar bola ao despertador, contar calorias, fazer um prato colorido e sem carboidratos simples, usar sapatos criadores de bolhas e roupas desconfortáveis exigidas nos ambientes que frequenta em período comercial, dormir antes das seis da manhã… Entende meu ponto?

Todo santo dia, nesta “gurulândia” que a internet se tornou, topamos com conteúdos recheados de mandamentos para comer melhor, dormir melhor, trepar melhor, trabalhar melhor, falar melhor, ser uma pessoa melhor, ser mais feliz, produzir mais… E, sem qualquer moderação, inserimos tudo em nosso já transbordante regulamento pessoal, até que… Nos flagramos entupidos de culpa por causa dos carboidratos do macarrão de domingo, sofrendo porque tomamos três taças de vinho – em vez de uma – no aniversário que rolou na quinta-feira, tristes por causa da gripe que derrubou nosso rendimento profissional a níveis inadmissíveis de acordo com o entrevistado da semana da Você S/A, lamentando sem parar depois de termos mandado várias mensagens seguidas ao ser que aumenta nossa tara – contrariado o especialista em sexo formado em punheta que afirmou: “Se quer transar, cuidado para não demonstrar muita sede”.

Ter disciplina é imprescindível àqueles que querem conseguir algo na vida, eu sei. Mas mandar o regulamento à casa do caralho vez ou outra é libertador como abrir o botão da calça depois de um almoço feito pela avó.

Mais do que isso: é necessário para que mantenha o equilíbrio. Ou você acha que só com ordem conseguirá equilibrar a balança da sua sanidade? Eu não acho. Nem o Buk.

Há alguns meses, confesso: quase me afoguei num mar de ordem. Quando notei, estava vivendo à base de banana com aveia, planilhando até minhas mijadas, colocando alarmes para me lembrar de beber água e, o que considero pior, sofrendo pacas sempre que desviava um pouquinho dos eixos.

Então tomei um porre, que apesar de ter me feito reencontrar com a maldita ressaca, reequilibrou-me e me ajudou a produzir o seguinte poema que, como descobrirá logo mais, representa bem a ideia deste texto:

Se tudo estiver caótico, ordene-se:

yogue-se, já.

Medite-se.

Maracugine-se. 

Foda-se o prazo, a planilha, a vontade de ser CEO.

Menos trampo, mais fibras.

Menos punk, mais jazz.

Ou… “Aqui jaz” e vários parentes pegando dengue em seu velório; e dizendo: “E ele nem fumava, e corria todo dia, e não comia bacon nem mulher de malandro”.

Se tudo estiver muita ordem, porém, caotize-se:

cafeíne-se.

Alcoolize-se.

Traumatize-se só para ter o que contar:

“Consegui este osso quebrado num bar e blábláblá…”.

Arrume uma namorada sadomasoquista e diga que quer cafuné.

Arrume um amigo machista e diga que ele é igual à muié.

Arrume a casa e, depois, faça uma festa; só para quebrar tudo, do rádio ao coração.

Só não anestesie-se.

Compreende meu ponto agora?

Nunca se esqueça dos riscos de beber sem moderação, mas, pelo seu bem, lembre-se: em excesso, até mesmo a água faz mal.

Enlouquecer de vez em quando faz bem, é isso!

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Ricardo Coiro

Ricardo Coiro

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