Querido ex-ainda-amor,
Você ainda acredita no poder dos sentimentos ou as tantas decepções desta vida já fizeram o desfavor de petrificar seu coração?
Você ainda pede sorvete no copinho ou já perdeu esse medo bobo de lambuzar a cara?
Você ainda fica com as bochechas molhadas no final do filme ou, agora, acha que todo beijo é técnico?
Você ainda arregala o sorriso enquanto sonha ou já nem se lembra mais do que é sonhar?
Você ainda odeia sashimi ou já aprendeu a encarar a textura do peixe cru?
Você ainda desmaia toda vez que tiram uma gotinha do seu sangue ou, neste instante, desconfia que nem sangue mais tem nas veias?
Você ainda fala “eca” para o arroz integral ou, finalmente, aprendeu que sacrifícios em prol da saúde precisam ser feitos?
Você ainda faz escândalo quando algo no fundo do mar esbarra em seus dedos ou já entendeu que são só algas e galhos?
Você ainda sai de cabelos molhados e sem agasalho na bolsa ou, enfim, decidiu se cuidar?
Você ainda acha que é velha ou, depois de tantos anos invernos, envelheceu de verdade?
Você ainda pensa em mim ou já se esqueceu completamente da minha existência?
Você ainda é um pouco minha ou já é toda dele, dos lábios à alma?
Um beijo infinito de um cara que, apesar de transbordar saudade, ainda é o mesmo. E que continua pensando em você. Afinal, nosso caso, apesar de ter começado na praia, foi muito mais do que um amoreco de verão: fomos muitas e muitas primaveras, de uma só vez. Aliás… Você ainda rega as violetas que eu lhe dei ou, por mágoa e medo de não conseguir me esquecer, parou de regá-las como fez com o nosso amor?