Aposte nas transparências no primeiro encontro

Eu tenho um amigo que sempre muda de personalidade quando está próximo à namorada. Você também conhece alguém assim? Quando a moça está presente, ele não conta piadas de papagaio, não imita o Silvio Santos, não bebe mais do que meia latinha de cerveja, não come feito um urso prestes a hibernar, não nos mata de rir com dancinhas mirabolantes e não fala palavrões. Ou seja, não faz nada do que sempre fez!

Perto da namorada ele não se parece nem um pouco com o Xexéu original; aquele cara extrovertido que fazia performances engraçadíssimas em baladas lotadas e que costumava beber vodca no gargalo, like a motherfucker viking. Até mesmo o tom de voz ele dá um jeito de mudar quando está ao alcance do radar da garota. Dá para acreditar? É como se ele estivesse diante de uma professora de etiqueta extremamente severa e constantemente à espera de um motivo – qualquer um! – para puni-lo com marteladas no dedo mindinho. Saca?

Sei que pequenas adaptações comportamentais são absolutamente normais – e às vezes até necessárias – quando deixamos a solteirice e optamos por mergulhar de cabeça na vida de casal. Mas se podar totalmente, a ponto de não ser reconhecido nem pelos velhos amigos? Aí é exagero, assassinato de personalidade que ninguém deveria permitir.

Se você já sabe que precisará abrir mão da sua essência para ser – ou fingir ser! – a namorada que ele espera, fuja correndo para as montanhas! Ou, simplesmente, diga que se enganou e que deu o match quando espirrou. Mas, jamais, em hipótese alguma, castre a sua personalidade para agradar alguém, pois achar que vale a pena se anular por completo em troca de aceitação é uma grande ilusão, uma punhalada certeira no coração de algo imprescindível à sua felicidade: o amor-próprio. Não estou brincando, mulher. Porque o teatrinho que, no começo, pode até parecer uma postura facilmente sustentável e totalmente inofensiva, rapidamente, vai se tornar a bomba-relógio que um dia destruirá a sua relação ou, no melhor dos mundos, estilhaçará o seu sossego.

E sabe o pior? Quanto mais tempo você aceitar viver em ritmo de farsa e dentro de fantasias costuradas somente em prol da anuência dele, mais dificuldade terá de se livrar das máscaras e voltar a ser aquilo que você, no fundo, nunca deixou de ser. Por quê? Pois você morrerá de medo de descobrir que ele é loucamente apaixonado pela atriz que você, desde o primeiro jantar, vive a interpretar. E sentirá um pavor congelante quando pensar que existe uma chance de ele não sentir a mínima atração por aquilo que você é de verdade, sob o que diz e demonstra.

Quer um conselho? Seja o mais transparente possível desde o primeiro encontro. Não, isso não é suicídio! A coragem necessária para não esconder as suas características marcantes, defeitos e manias pode ser encarada como uma grande qualidade. E, também, como um ingrediente com grande potencial de evitar futuras toneladas na consciência; já que depois – caso o jantar se torne beijo, o beijo vire transa e a transa, por fim, transforme-se em estopim de namoro – você se sentirá aliviada por ter a certeza de que é amada por aquilo que realmente é – e não por aquilo que fingiu ser graças ao medo de ser rejeitada.

Não estou dizendo para colar no primeiro encontro vestindo uma camiseta “Sou legal, mas tenho chulé!”. Aí é pegar muito pesado, o cúmulo da sinceridade. Mas de que adiantará afirmar que você ama gatos se, cedo ou tarde, sabe que dará um sonoro chilique quando trombar com um felino por aí? Hein? E se ele não quiser mais sair com você por causa da sua implicância com os bichanos? Paciência, ué. Melhor do passar a vida inteira sofrendo feito um agente secreto que teme ter a real identidade desvendada pela própria família. Não acha?

“A princípio, o bojo pode até parecer uma ótima solução, contudo, depois que ele disser que ama os seus melões, como você fará para ficar pelada sem se sentir a materialização do engano?” (Mestre dos Magos).

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Ricardo Coiro

Ricardo Coiro

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