Amor não é discurso, é atitude

– Então tá bom, amorzinho. Durma bem.

– Só isso?

– Como assim?

– Não vai me dizer mais nada?

– Boa noite! É isso que quer ouvir?

– Não!

– Então eu não sei.

– Diga que me ama!

– Eu amo você, amor. Agora eu vou desligar, tá?

– Ama mesmo?

– Amo.

– Ama quanto?

– Amo muito. Agora eu vou dormir. Tudo bem?

– Ama mais do que temaki?

– Amo bem mais. Agora eu vou…

– ESPERA!

– O que foi?

– Fala só mais uma vez, por favor.

– Falar o quê?

– Que me ama, porra!

– Eu amo você, porra! Boa noite.

– Boa noite, seu grosso.

Vinte e cinco minutos depois, quando Paulo já estava mais para o subconsciente do que para o consciente, o celular dele vibrou para avisar que um SMS da namorada havia chegado: “Amor, eu amo você!”. “Eu tbm”, ele respondeu, quase sem forças nos dedos e lutando contra o sono que o puxava para universos oníricos. Uma nova mensagem da namorada: “Só ‘eu tbm’?”. Paulo leu e sentiu vontade de arremessar o celular contra a parede, porém, nobremente, guardou a ira e investiu as poucas forças que ainda tinha em uma última mensagem: “Amor, meu grande amor, eu, Paulo Ravioli Januário da Silva, gostaria que soubesse o quando eu amo você. Amo mais do que mentem os políticos. Amo mais do que o Léo-Piroca-de-Monxtro-Stronda ama batata-doce. Amo mais do que o nível de falsidade do Teste de Fidelidade!”. Sabe o que a namorada dele respondeu? “Quanta ironia, Paulo Ravioli!”. Você acredita? E pior: esse tipo de cobrança desnecessária não costuma acontecer apenas com o Paulo Ravioli: ela acontece, também, com o Bento Junior, com o Fábio Leôncio e com o Pedro Pepe. E já rolou, muitas vezes, com a Maria Noca, com a Joana Fernanda e com a Eduarda Heloísa. Eu juro!

Algumas pessoas, por gastarem muito tempo e energia exigindo frases – como o “eu te amo” – que, definitivamente, não provam amor, não conseguem prestar atenção nas verdadeiras e cotidianas declarações de carinho, muitas vezes realizadas em silêncio e apenas com a força de um olhar. Você é desse tipo? Cuidado! Alerta vermelho! Porque você poderá ser facilmente enganada por algum atorzinho meia-boca que nem na Malhação conseguiria uma ponta. Acha que não? Qualquer malandro consegue passar o ano todo repetindo – como um papagaio treinado – que ama você, mas poucos, pouquíssimos, conseguirão dizer a mesma coisa por meio de atitudes reais e sinceras.

Falar é muito fácil, qualquer canalha assassino de corações ingênuos consegue. Já a atitude, aquela que dispensa palavras, é outra história, completamente diferente e bem mais difícil de ser forjada; algo que nem o Al Pacino consegue encenar com facilidade. Nem o Fagundão.

Se você é do tipo que vive a mendigar – e a forçar – provas de amor que, se pensar bem, nada comprovam, mude já o foco. Cresça! Amadureça! Pare de cobrar frases de efeito que só servem para alimentar uma ilusão e anestesiar a sua insegurança incontrolável, e comece, já, a prestar mais atenção nas atitudes comuns do cara – ou da mina. E, muito provavelmente, você perceberá que anda reclamando de barriga cheia, e que seu namorado, mesmo sem nunca ter dito de joelhos o tradicional “eu te amo” hollywoodiano, já demonstrou – de maneiras muito mais grandiosas e incontestáveis – que ama você pra caralho, do dedinho torto do pé à cabeça dura.

Em algum dia do passado, seu namorado – quando percebeu que você estava morrendo de preocupação – fez horas de massagem em suas costas, abraçou você da maneira aconchegante que só ele consegue abraçar e torceu – mais do que ele torce pelo Corinthians em final de Libertadores – para que tudo desse certo em sua vida. Lembra-se? Quer prova de amor maior do que essa? Trocaria essas atitudes por porções de “eu te amo” servidas para cumprir tabela? Acho que não. Né?

Achar alguém que ama somente da boca pra fora é muito fácil, mesmo. Quero ver você encontrar uma pessoa que, mesmo em silêncio, ama do peito pra dentro. Já encontrou? Então agrade e agradeça. E muito!

O amor não é discurso, é atitude!

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Ricardo Coiro

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