Ela aplica um cafuné de arrepiar os pelinhos da nuca, curte fazer maratonas intermináveis de séries e conhece várias maneiras de me dar onda. Mas quer saber o principal motivo pelo qual estamos juntos há tanto tempo? Nosso papo flui fácil, vai que vai…
Dormimos e acordamos na mesma cama todos os dias, e, mesmo assim, sempre temos uma porção de assuntos para acompanhar muitas e muitas saideiras. Trata-se de conversa empolgante, tá ligado? Do tipo que até seca a garganta, que faz a atendente ranzinza da doceria da esquina cochichar: “Ih, esses dois não vão consumir mais nada e ficarão nesse blábláblá até o a loja fechar, você verá”.
Se você só quer fazer um intercâmbio de fluídos, virar os olhos e acordar o vizinho de cima com gemidos, não precisará procurar por seres com os quais sentirá vontade de trocar ideia por horas e séculos e milênios. Afinal, cedo ou tarde acabarão se atracando no banco de trás do carro e usando a boca para emitir sons mais primitivos do que um diálogo tradicional costuma exigir – se é que me entende. Se você está a fim de um parceiro (que a meu ver significa muito mais do que marido ou namorado, mesmo quando não possui tais títulos/rótulos), porém, recomendo que preste bastante atenção no quão agradável e fluente o papo de vocês é. Saca? Pois mesmo que sejam “transantes” à beça, a ponto de não conseguirem nem esperar o final do filme para começarem o lepo-lepar feito bichos no cio, passarão por centenas situações em que molhar o biscoito não será possível; momentos nos quais seu celular não terá bateria; horas em que não haverá baralho nem dominó à disposição; períodos em que a única alternativa será bater papo.
Se pensar bem, deixando de lado o ângulo romantizado da coisa, perceberá que um casal passa imensa maioria do tempo conjunto conversando – não trocando carícias ou beijos.
Sintonia na hora de conversar é parte essencial da vida a dois, não dá para negar. E quando digo “conversar”, não tem nada a ver com capacidade de demonstrar conhecimentos de história da arte e física quântica por meio de palavras. Não confunda as coisas, por favor! Afinal, uma pessoa cheia de repertório intelectual, em muitos casos, pode não ter um papo cativante. Pelo contrário: pode ser um verdadeiro porre, uma fábrica de bocejos.
Então o que é uma conversa legal? É relativo, oras. Uma conversa legal para mim pode ser extremamente entediante a você, não pode? Mas uma coisa é certa: a capacidade – e vontade – de ouvir (coisa cada vez mais rara nos dias “umbiguistas” de hoje) é primordial para o diálogo não vire um monólogo de parar os ponteiros. Ou seja, não seja do tipo que, enquanto o outro está falando, só consegue pensar na sua próxima fala, sem dar a mínima para o que ele está tentando transmitir. Ouça, antes de tudo. E então, só então, interaja. Um bate-papo é uma troca, um pingue-pongue no qual todo mundo sai ganhando. Portanto, tome muito cuidado para não acabar tentando colocar seu “eu” acima de todo o resto.
Outra coisa: permanecer realmente atento aos sinais da pessoa com que está conversando é o melhor caminho para mandar bem no “blá” e notar momentos em que a rota do papo precisa ser alterada. Nada muito diferente do que deve ocorrer no sexo, certo? Já que a grande maioria dos seres que mandam mal na cama age assim porque, enquanto foca apenas no próprio desempenho, não percebe os claros sinais de insatisfação que o parceiro está emitindo. Compreende o paralelo?
Se bom papo vier junto com características físicas que exercem atração em você, ótimo. No entanto, se estiver buscando alguém para uma relação longa e precisar escolher entre um tortinho com quem a conversa desenrola fácil e um gatão com quem ficar trinta minutos no boteco é pra lá de difícil, não hesite em ficar com o moço fora dos padrões. Porque o passar do tempo faz com que nos acostumemos à beleza – qualquer que seja ela! -, coisa que não acontece com o bom papo, que continua a cativar por anos e anos, principalmente quando as partes de uma relação continuam a se aprimorar na arte de se comunicar.
Minha namorada vai enrugar, engordar, amolecer, curvar… Eu sei disso! E não temo, juro. Ficaria preocupado se ela não passasse de um amontado de pele e ossos sem nada a dizer.
Quer um conselho? Namore alguém com quem você ama conversar, e o tempo – e todos os estragos que ele causa na carcaça humana – não será inimigo da sua relação.