Fala logo pra ela

Ela, a moça que faz o melhor cafuné do mundo e que lhe dá café quando você fica de porre, não vai esperá-lo para sempre. Ela, provavelmente, desistirá de você — e da sua indecisão — no próximo mês. Ou hoje mesmo, um pouquinho depois das dez. Não entendeu o meu recado, irmão? Serei mais claro: deixa de covardia e fala logo que é com ela — e só com ela! — que deseja ficar embolado quando tudo estiver mais do que certo ou à beira de dar muito errado. Não espera ela começar a achar que você não quer nada com nada, e que a vê, apenas, como mais uma foda, alternativa para o dia em que não há balada ou UFC até de madrugada. Fala pra ela que, nesta galáxia cheia de avenidas e vielas, nunca conheceu lugar mais aconchegante do que o colo dela. Diga: “É só você que me dá frio na barriga! É só você que, além de uma puta amiga, me mata de tesão mesmo quando traja trapos, à la mendiga!”. Não espera ela dizer “Não aguento mais a sua demora, tô indo embora agora!” para falar “Eu quero que fique de vez, pertinho de mim como se fosse meu gêmeo siamês e mil vezes mais feliz do que ficou com seu ex!”.

Fala logo, cara. Desembucha aquilo que, em seu coração, está mais do que evidente. Fala o que ela precisa ouvir para não começar a achar que você é só mais um trouxa. Diga para o seu chefe que está se sentindo muito mal e vai até o trampo dela para dizer que não vai deixá-la passar por você como fez com aquela peça que já saiu de cartaz. Avisa que, para fazê-la ficar, vai aprender a fazer pavê; e que ligará hoje mesmo para a Net, só para aumentar o número de canais da TV. Liga pra ela, parça. Liga para dizer tudo aquilo que seu sorriso não disfarça quando ela dança ou apenas descansa. Liga para dizer que está ligado nela e desplugado da morena que conheceu na Portela e da ruiva que deixou lá na Inglaterra. Liga só para dizer “Quero virar o ano com você, ver seu medo dos fogos de artifício de perto. Ou, se preferir, podemos passar o Réveillon sob o meu edredom, eu só de barba e você apenas de batom. O que acha? Com você comemoro até com vodka Natasha!”. Avisa logo, meu velho. Avisa que é com ela que está a fim de curtir a brisa do mar, do beck e da bossa-nova. Avisa que é com ela que deseja estrear a sua camisa nova e reexperimentar o Big Mac. Avisa que com ela — e só com ela! — está disposto a assistir à novela e a acordar bem cedinho para dar rolê de “magrela” no parque. Avisa que por ela — e só por ela — vai tirar toda a poeira da panela, dos quadris e do seu terno de risca de giz. Avisa que fará tudo, tudo mesmo, para fazê-la feliz. Avisa que quer algo sério, que não quer mais nada pela metade ou para sempre com cara de por um triz, prestes a virar “aqui jaz”. Avisa que não vai trocá-la por nada, nem por atriz de Hollywood ou por bunda violentamente empinada. Avisa que não vai deixá-la quando as rugas chegarem para avisar que está no fim da juventude. Avisa agora, antes que ela mude de modos, medos, ideias e endereço. Avisa antes que ela, por falta de aviso claro, ache que você está longe de querer algum compromisso. E se encante por um moço que, ao contrário de você, amará sem ser omisso, deixando muito claro o que pensa acerca de tudo isso.

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Ricardo Coiro

Ricardo Coiro

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